sábado, 17 de dezembro de 2011

Boletim online do CBA 54/dezembro 2011

BOLETIM ONLINE 54 RIO DE JANEIRO, 17 DE DEZEMBRO DE 2011 Faltam profissionais para atuarem na área de arqueologia no Amazonas Apesar da grande riqueza arqueológica existente em Manaus, a escassez de profissionais é apontada por especialista como um dos gargalos para a preservação deste patrimônio Manaus, 15 de Dezembro de 2011 CASSANDRA CASTRO Toda a riqueza arqueológica da cidade de Manaus é de conhecimento dos profissionais que lidam com ela diariamente. Mas apesar dos esforços conjuntos, diversos fatores apontam para um panorama de perdas consideráveis de material arqueológico não só na capital, mas também no interior do Amazonas. A arqueóloga Helena Lima fala que em Manaus os sítios arqueológicos são muito impactados principalmente por obras de infraestrutura, expansões comerciais e residenciais. Aliada ao ritmo acelerado de obras que acabam destruindo senão totalmente, boa parte destes sítios arqueológicos, está a falta de profissionais na região. Helena afirma que existem poucos arqueólogos institucionalizados no Amazonas e o que não falta é trabalho. “ O Ipham , órgão responsável pelo gerenciamento do patrimônio arqueológico no Estado, se esforça para fazer com que se cumpra a legislação e a fiscalização, mas existe um arqueólogo para dar conta do Estado do Amazonas inteiro”, conta Helena. Apesar de existir uma legislação rigorosa em relação à proteção ao patrimônio arqueológico, dificilmente ela é cumprida. A solução para o problema da escassez de profissionais começa a ganhar corpo com o curso de graduação em arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas. Esses profissionais tem papel fundamental para que seja despertado o interesse de todos em relação à importância da preservação destes achados arqueológicos. Helena Lima acredita que é necessário ser feito um trabalho de sensibilização junto à sociedade para conscientizar toda a população de que é ela a principal detentora do patrimônio arqueológico de sua cidade e Estado. http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-Amazonia_0_608339210.html fonte do artigo acima. AMAZONAS TEM TESOUROS ESCONDIDOS Tesouros arqueológicos escondidos nos subterrâneos de Manaus Poucos sabem que boa parte da memória de Manaus está escondida debaixo da terra. São peças valiosas que podem ajudar a entender a história da cidade Manaus, 15 de Dezembro de 2011 CASSANDRA CASTRO Tesouros escondidos debaixo de calçadas, avenidas, construções...Muitos que andam por Manaus sequer imaginam a riqueza que está escondida nos seus subterrâneos. Um pouco da Manaus colonial e até pré colonial está sendo resgatado pelo esforço e dedicação de profissionais que escolheram desvendar este complexo entrelaçado de épocas, costumes e artefatos. Um dos locais onde podemos encontrar um pouco deste universo de descobertas arqueológicas é o laboratório Alfredo Mendonça de Souza que funciona dentro do complexo de museus situado no Palacete Provincial, centro de Manaus. Quando lá chegamos, somos cativados pela curiosidade das peças que vemos: filtros de cerâmica de grés intactos; garrafas de cerveja, de refrigerantes, de remédios, esculturas, pedaços de louças...A maioria destas preciosidades foi achada em locais distintos do centro de Manaus. Destes lugares são retiradas toneladas de material, resquícios de povos que viveram aqui bem antes de nós e que deixaram impregnadas nos locais por onde passaram , as marcas deste pedaço da nossa história. A turismóloga Socorro Paiva mostra parte de um acervo baseado nas 3 toneladas de material arqueológico retirado durante as obras de restauração da Catedral Metropolitana de Manaus,em 2002. A maioria do material ainda não foi analisada e está guardada em engradados ,com os objetos cuidadosamente embalados . Uma mostra do que foi encontrado pode ser vista no laboratório. Socorro explica que o trabalho feito pela equipe de profissionais que trabalha aqui é demorado e delicado “ O visitante que chega aqui pode ver as principais etapas do fazer arqueológico e mergulhar um pouco no fascinante mundo que é buscar conhecer os nossos antepassados”, conta. Podemos ver garrafas de louça importadas de Portugal, Dinamarca e Inglaterra, todas para acondicionar cerveja e que surgem aos milhares sempre que são realizadas obras que implicam sempre em mexer com solo e escavações no centro de Manaus. Exemplos não faltam e parte deles está ao alcance de quem visitar a exposição montada dentro do laboratório de arqueologia do Palacete Provincial. Muitas peças chamam a atenção pela beleza e diversidade. Locais como as esquinas da avenida Eduardo Ribeiro com Quintino Bocaiúva, Getúlio Vargas com rua Lauro Cavalcante, ruas José Paranaguá, Marcílio Dias, Costa Azevedo, Lobo D’Almada, todas no centro de Manaus, são exemplos de locais de onde muito material arqueológico foi recolhido. Boa parte deles é levada por trabalhadores da construção civil ou até donos das propriedades que passam por obras e que acharam algo diferente. Por desconhecimento, alguns só entregam ao laboratório peças inteiras, mas muitas vezes, até objetos que estejam quebrados podem ter valor para estudo. Atualmente, a equipe está no processo de levantamento dos fragmentos e peças de louças encontrados nos diversos locais que apresentaram registros de artefatos arqueológicos na cidade. O laboratório acaba funcionando como uma forma de sensibilizar a sociedade para a importância de resgate destas peças que fazem parte de um grande quebra-cabeças da história de Manaus. O laboratório é aberto à visitação, de terça a sexta, das 8h às 17h e fica localizado no Palacete Provincial , na praça Heliodoro Balbi, também conhecida como praça da Polícia, no centro da cidade. A entrada é franca. Às portas da cidade de Lagos, no Algarve, a arqueóloga Maria João Neves e a antropóloga Maria Teresa Ferreira, que ali trabalhavam desde Janeiro de 2009, depararam-se com um achado único a nível mundial: um dos mais antigos "cemitérios" de escravos africanos alguma vez encontrados. O achado ocorreu no âmbito de uma escavação arqueológica preventiva, executada pela Dryas Arqueologia - num local destinado à construção de um parque de estacionamento subterrâneo - e abre caminho a uma investigação mais profunda sobre o modo de vida e o tratamento mortuário dado a estas pessoas nos tempos da escravatura. Numa breve entrevista ao Boas Notícias, Maria João Neves explicou a singularidade desta descoberta e falou da história escondida por trás dela. Como foi encontrado este "cemitério" de escravos? Os esqueletos dos escravos africanos que encontrámos em Lagos foram inumados numa lixeira que funcionou entre o século XV e o século XVII. Na realidade, não podemos falar de um verdadeiro cemitério de escravos, porque na maioria dos casos os corpos foram descartados, mas nalguns deles há também sinais de ter havido cuidado na forma de depositar os cadáveres, colocados inclusivamente em posições que evocam os seus cultos de origem africanos. Além dos esqueletos, encontraram algo mais? Nesta vasta lixeira, a par dos 155 esqueletos de escravos, também encontrámos muitos vestígios arquológicos - quer cerâmicos, metálicos ou faunísticos - de que os habitantes de Lagos se desfaziam aqui. Todos estes objetos são especialmente informativos porque nos contam mais sobre o modo de vida, os hábitos, os costumes, as relações económicas e sociais estabelecidas na cidade em época moderna. Por exemplo, foram recolhidos milhares de fragmentos cerâmicos, muitos dos quais de oficinas estrangeiras (sobretudo espanholas e italianas), o que demonstra a vitalidade comercial e económica desta cidade portuária, onde afluíam muitas mercadorias. De que época datam estes vestígios? Tendo em conta o contexto arqueológico dos esqueletos, uma vez que foram recuperados em conjunto com outros materiais, deverão ter sido depositados algures entre os séculos XV e XVII. Existe alguma explicação para os esqueletos se encontrarem neste local específico? O costume de depositar os escravos em poços - como o que existia naturalmente no lugar da lixeira de Lagos – era habitual e encontra-se documentado em várias fontes históricas. Em Portugal, D. Manuel I lançou mesmo um decreto régio, em 1515, de forma a evitar que os corpos dos escravos fossem abandonados nas ruas, onde eram arrastyados e devorados por cães. Deste modo, e tendo em conta tanto os dados da escavação como a própria História, a explicação para o achado é a existência de uma prática de descarte dos cadáveres dos escravos. Sendo Lagos uma cidade pioneira e que teve grande destaque no tráfico de escravos, a descoberta neste local não é de estranhar. Qual é o valor desta descoberta? O valor é enorme, desde logo porque nos dá uma oportunidade inestimável para documentar objetivamente o tratamento na morte que era dado aos escravos enterrados aqui. Mas permite-nos saber muito mais do que isso, até mesmo conhecer as condições precárias de vida durante o cativeiro e traçar perfis biológicos (idade, sexo, estatura e afinidades populacionais) destes indivíduos. Além disso, dá-nos possibilidade de identificar lesões esqueléticas que testemunham a violência, as carências alimentares e as doenças infecciosas. Tudo isto é essencial para discutir o problema da demografia e do recrutamento de escravos. É um achado único? Existem, sobretudo no continente e nas ilhas americanas, outros cemitérios escavados de escravos. Porém, o contexto específico deste, que se encontra numa lixeira, e o facto de ser um dos cemitérios mais antigos já descobertos - uma vez que os restantes datam de períodos mais tardios, dos séculos XVII a XIX - tornam-no de facto singular em todo o mundo. O público em geral pode ter acesso a estes vestígios arqueológicos? Sim, na verdade, está patente no Mercado de Escravos em Lagos uma pequena exposição onde, partindo do conceito de mercadoria, são apresentados alguns dos achados da lixeira da cidade, exposição essa que foi organizada pela Câmara Municipal de Lagos em parceria com a Dryas e alguns artistas plásticos do Laboratório de Atividades Criativas local. De que maneira será assinalada esta descoberta? Em primeiro lugar, está prevista a realização de um memorial no local da responsabilidade do Comité Português da UNESCO da "Rota do Escravo", salientando a memória do tráfico transatlântico de escravos. Também se prevê a criação de um centro de investigação dedicado ao tema em Lagos, que tenha uma vocação multidisciplinar. Que outros passos serão dados na pesquisa? A curto prazo, o mais importante é dar seguimento aos estudos que estamos a realizar em conjunto com investigadores da Universidade de Coimbra, no âmbito de um projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Isto porque estes estudos são o primeiro passo para um programa de pesquisa mais amplo e vão permitir aumentar o conhecimento existente acerca do modo de vida e do tratamento mortuário a que estas pessoas foram sujeitas, bem como da própria História do tráfico de escravos africanos. APOIO DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Um comentário:

  1. Arqueologia é destaque na midia neste mes de dezembro.Contudo a profissão continua não reconhecida oficialmente como as demais geologia, geografia, história, engenharia, serviço social, biologia e tantas mais.
    arqueólogos, tratem de se unir e lutar por seus direitos.

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