segunda-feira, 27 de agosto de 2012

São José de Itaborai, Estado do Rio de Janeiro.


ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL E DA PAISAGEM EM SÃO JOSÉ DE ITABORAI, RJ.

FRANCISCO OCTAVIO BEZERRA
Centro Brasileiro de Arqueologia
BENEDICTO HUMBERTO RODRIGUES FRANCISCO
Museu Nacional da UFRJ

Na década de vinte o Sr. Ernesto Coube encontrou na fazenda São José de sua propriedade um
material que julgou tratar-se de caulim. Entregou as amostras ao eng. .Carlos Euler que as enviou


ao Laboratório de Química do Serviço Geológico do Brasil. O resultado foi publicado no
relatório Anual do Diretor de 1928 revelando na verdade tratar-se de calcário de boa qualidade
para fabricação de cimento. 
Foram enviados ao local os engenheiros Ruy de Lima e Silva e
Othon H.Leonardos, os quais fizeram o primeiro estudo geológico do terreno. Verificaram tratarse
de um novo sítio fossilífero. As primeira amostras de fósseis foram extraviadas sendo mais tarde realizada nova coleção pelo engenheiro Luciano Jacques de Moraes sendo enviada para C.
J. Maury nos Estados Unidos da América do Norte que identificou espécies de moluscos ( ver
placa Paleontologia).






 Novas e importantes coleções foram efetuadas nos anos seguintes evidenciando para o mundo a importância científica da pequena bacia sedimentar de São José
de Itaboraí.









Os estudos mostraram também ser viável a explotação do calcário para cimento, uma indústria
ainda incipiente no Brasil, posto que a única fábrica em operação estava localizada em Perus,
São Paulo. A Cia. de Cimento Portland Mauá obteve permissão para explorar a jazida pelo
contrato de 31 de outubro de 1931 assinado e registrado no Tribunal de Contas da união em 18
de novembro de 1932, instalando a fábrica em Guaxindiba, Município de São Gonçalo, servido
por estrada de ferro .Um ramal foi construído até São José para escoamento da matéria prima. A
fábrica de cimento foi inaugurada festivamente com a presença do Presidente Getúlio Dornelles
Vargas, constituindo um importante marco no desenvolvimento industrial do Brasil. Em 1935 a
Cia Mauá obteve o registro de mina (manifesto) na Divisão de Fomento da Produção mineral
em atendimento ao que dispõe o artigo 30 do decreto 24 642 de 1934 tornando obrigatório o
registro das minas em operação no País.
O cimento da fábrica de Guaxindiba foi usado para construções importantes como o Estádio
Mário Filho ( Maracanã ) inaugurado em 1950 para Copa do Mundo de Futebol da FIFA e a
Ponte Presidente Costa e Silva ( Rio-Niterói ). Foi também da Mauá o primeiro saco de cimento
(foto) em pape,l substituindo os antigos recipientes usados para transporte de cimento, feitos de
madeira e depois de pano. A fábrica bateu seguidos recordes de produção em razão da
excelência do calcário de Itaboraí e do volume crescente da reserva medida nos anos seguintes,
chegando a atingira o volume total de até 2 050 700 m³ de minério.
O esgotamento gradativo da reserva de calcário apropriado para cimento, somado à descoberta
de importantes jazidas em Cantagalo, levou ao abandono paulatino da pedreira a partir de 1982 o
que se consumou em 1984, com a retirada das máquinas e o fechamento dos escritórios
localizados em São José. A outrora próspera vila municipal deu lugar a uma espécie de cidade
fantasma, com a saída de moradores e o fechamento quase total do comércio local, fato agravado
pela crise da cultura da laranja, na mesma época atingida por séria doença nos laranjais.
A área original operada pela Cia. Mauá era de 1 34 155 2,50 m² o que corresponde ao terreno
desapropriado pela Prefeitura em 12 de abril de 1990 e que estabelece a área do Parque
Paleontológico conforme o decreto lei de 12 de dezembro de 1995.
A retirada das bombas que impediam o acúmulo de água na cava proporcionou depois de algum
tempo a formação da lagoa artificial de São José que atualmente abastece de água a região
através de uma cooperativa (COPERAGUA).
A ação coordenada inicialmente pelo professor Fausto Luiz de Souza Cunha e depois por um
grupo de professores e pesquisadores apoiados pelo Museu Nacional e pelo DRM levou à
criação do Parque Paleontológico São José, conforme o decreto lei municipal 1346 de 12 de
dezembro de 1995, assinado pelo prefeito João Scolfaro. No ano seguinte foi instituída por
Portaria Municipal a Comissão Gestora do Parque, formada por pesquisadores, representantes
da comunidade e da prefeitura de Itaboraí.





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